terça-feira, 22 de maio de 2007

DESPREZANDO O DESPREZO

Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. (Is 53:3)

Os escritores do Novo Testamento citam o profeta Isaías mais do que todos os outros profetas juntos. Nenhum outro livro do Antigo Testamento é tão integralmente messiânico como o de Isaías. Ele poderia ser facilmente denominado de o “quinto evangelho”, em virtude de suas variadas e detalhadas previsões sobre a pessoa, o caráter e o ministério do Messias (Is 7:14-15, 9:6-7, 11:1-2,4-5,10, 24:23, 25:8, 32:1, 35:4-6, 40:3,11, 42:2-3, 44:6,24, 45:1-12, 61:1, 63:1-6). De todas as profecias messiânicas, nenhuma é tão clara e forte como a registrada capítulo cinqüenta e três, em que é dada uma das descrições mais reveladoras da pessoa de Jesus e a obra que ele realizaria na sua primeira vinda.
Na lição de hoje, veremos que Isaías descreve o Servo sem beleza, segundo o conceito humano, desprezado e rejeitado entre as pessoas (Is 53:2-3). Foi considerado desaprovado e afligido por Deus (53:4). Apesar de ferido pelos homens, não foi isso que trouxe a salvação, mas o fato de ter Deus colocado sobre ele as transgressões de todos nós (53:6,10). Surpreendentemente, essa oferta “agradou” ao Pai, no sentido de lhe proporcionar satisfação completa, com referência à vitória sobre o pecado. Isso é comprovado pelo fato de que a única oferta do Filho proporcionou expiação absoluta do pecado e intercessão contínua em favor dos pecadores (Is 53:10-12).[1] Como diria, mais tarde, o escritor da epístola aos Hebreus: ... ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (Hb 9:26b).

I – DE OLHO NA PALAVRA DE DEUS

Quando Adão pecou e, com ele, toda a humanidade, Deus, por pura compaixão e bondade, prometeu que enviaria a este mundo aquele que iria vencer aquele que havia levado o ser humano ao terrível estado de perdição espiritual (Gn 3:15). À medida que o tempo foi passando, a revelação acerca desse ilustre personagem foi crescendo, através das promessas que Deus fizera, primeiramente, aos patriarcas e, posteriormente, aos profetas. Deus, porém, sempre fez questão de frisar que a vinda do Messias seria marcada, não pela suntuosidade, mas pela simplicidade. Apesar desses alertas, os rabinos ensinavam que o Messias seria um homem tão poderoso que traria a Israel imediata liberdade política e militar. Uma vez que a profecia de Isaías estava fora desse esquema teológico, muitos não creriam nela: Quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do SENHOR? (Is 53:1).
Isaías prossegue mostrando que Jesus foi o homem mais desprezado e mais indesejado do seu tempo e da sua nação. Ele começa descrevendo a insignificância e a simplicidade de seu nascimento e de seu aparecimento: ... porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca (Is 53:2a). Ele não nasceu como nem onde nasciam os filhos dos nobres, ou seja, de maneira exuberante e em ambiente pomposo. Ele veio ao mundo numa pequena cidade e numa família que não tinha recursos sequer para comprar o cordeiro para o sacrifício da purificação, pelo que ofereceu somente dois pombinhos.
A sua origem simples seria facilmente perceptível: ... não tinha aparência nem formosura (Is 53:2a). Ele não teria aspecto exterior de grandeza ou de nobreza. Não se veria naquele homem que nasceria, não na capital, mas na periferia, não no palácio, mas no estábulo, nada que indicasse majestade, resplendor e magnitude. Por não possuir beleza, realeza, posição, recursos terrenos, as pessoas que amavam e buscavam esses valores mundanos não se agradarariam dele: ... olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse (Is 53:2). Entre o seu próprio povo e a sua própria terra, ele seria tratado com incrível desprezo e profunda rejeição. Ele não teria o apoio dos homens poderosos e presunçosos do mundo religioso – autoridades judaicas – e do mundo político – autoridades romanas: Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; (Is 53:3a). Ele seria ignorado: e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso (Is 53:3b)
Por que o Messias teria uma existência marcada por tamanho sofrimento? Isaías responde, dizendo: Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si (Is 53:4). Ele sofreria não por causa dos próprios pecados, mas por causa dos pecados dos outros. Muitos, porém, pensariam o contrário: ... e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido (Is 53:4). Muitos judeus – e muitos crentes de hoje – sempre diziam que todos os tipos de sofrimentos ou enfermidades eram resultantes ou de “pecado pessoal” ou “pecado familiar” (Jó 4:7-9; Jo 9:1-2). Nem todo infortúnio, todavia, é resultado de pecado pessoal. Jesus é a maior prova disso. Sendo verdadeiramente humano, Jesus experimentou todas as tentações humanas, mas não cedeu a nenhuma (Hb 4:15b).
Ninguém poderia convencê-lo de pecado (Jo 8:46). Acerca dele, diria Pôncio Pilatos: Não vejo neste homem crime algum (Lc 23:4). Sendo assim, por que aquele que não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano (I Pe 2:22) fora castigado por Deus? Por causa do pecado, não dele, mas nosso! Os judeus estavam certos em duas coisas: acertaram “a fonte do castigo” – Deus – e “a razão do castigo”, pecado; erraram, porém, naquilo em que deveriam ter acertado: o pecado não era dele, mas nosso, pois ele estava sofrendo por causa dos nossos pecados, estava sendo castigado por causa das nossas maldades (Is 53:5 – NTLH). Como diria Paulo, muito mais tarde: Em Cristo não havia pecado. Mas Deus colocou sobre Cristo a culpa dos nossos pecados para que nós, em união com ele, vivamos de acordo com a vontade de Deus (II Co 5:21 – NTLH).
De fato, “o servo levava sobre si os pecados dos que o contemplavam e que imaginavam que ele sofria um castigo enviado por Deus por causa do seu próprio pecado”.[2] Como frisa outro comentarista: “eles crêem em Deus e consideram o sofrimento como castigo pelo pecado. Só que eles observam o pecado no Servo, e não em si próprios”.[3] Embora nunca tivesse mentido, Jesus carregou a desgraça dos mentirosos. O fato é que, embora nunca tivesse enganado, sentiu o embaraço dos trapaceiros. Tendo uma vez carregado o pecado do mundo, sentiu o pecado do mundo todo. Ele vestiu nossas injustiças para que pudéssemos vestir sua justiça.
Isaías prossegue dizendo que o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Is 53:5b). O que se diz, nesta frase, parece não ter lógica, nem sentido, pois “ninguém espera que um castigo no verdadeiro sentido da palavra, o ato de sofrer uma sentença judicial – resulte em paz, nem que cura resulte de chagas”. O leitor da profecia se espanta ainda mais, quando descobre que as pessoas pelas quais o Messias iria sofrer e morrer não seriam justas, mas ímpias: Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho. O castigo que essas ovelhas teimosas e rebeldes mereciam seria aplicado ao Messias: ... mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.
Agora, Isaías passa a mostrar como o Messias se portaria diante do sofrimento. Ele seria violentamente atormentado e horrivelmente desdenhado, mas não faria nada para se proteger das muitas agressões físicas e não diria nada para se defender das várias acusações injustas. Isso é incomum! Quando alguém é tratado de maneira injusta, quase sempre assume um comportamento agressivo, atacando fisicamente o agressor, ou passivo, lamentando verbalmente a agressão. Jesus, porém, ao ser tratado com injustiça, não abriu a sua boca para defender seus direitos, nem para lamuriar as suas tristezas: Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Como diria Pedro, o mais falante dos discípulos, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente (I Pe 2:23).
Após ser oprimido por homens injustos, o Messias seria arrebatado ao lugar da execução: Por juízo opressor foi arrebatado (Is 53:8a). Na sua morte, também ninguém se importaria com ele: ... e de sua linhagem, quem dela cogitou? (Is 53:b) Ali, ele seria violentamente assassinado: Porquanto foi cortado da terra dos viventes (Is 538c). Mais uma vez, Isaías volta a frisar que tudo que ocorreria com o Messias seria devido ao pecado da nação: ... por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido (Is 53:8d). Os inimigos do Messias decidiriam que o seu enterro seria tão desonroso quanto a sua execução: ... designaram-lhe a sepultura com os perversos (Is 53:9a). Depois de executado entre criminosos, o Messias seria sepultado entre os criminosos, mas com o rico esteve na sua morte (Is 53:9b). Graças à ousada e bondosa intervenção de um membro do Sinédrio, esta humilhação final seria afastada (Mt 27:57-60; Mc 15:42-46).
Quem entregou Jesus para morrer? Não foi Judas, por dinheiro; não foi Pilatos, por temor; não foram os judeus, por inveja; mas o Pai, por amor. Como observa Stott, “no nível humano, Judas o entregou aos sacerdotes, os quais o entregaram a Pilatos, que o entregou aos soldados, os que o crucificaram. Mas, no nível divino, o Pai o entregou”.[4] Embora extremamente humilhante e dolorosa, a morte do Messias fazia parte dos planos de Deus: ... ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar (Is 53:10a). Como diria Pedro, muito tempo depois, Deus, por sua própria vontade e sabedoria, já havia resolvido que Jesus seria entregue nas mãos de vocês (At 2:23a). Uma coisa, porém, deve ser dita: “... não devemos ignorar a responsabilidade dos homens maus que tramaram a morte do servo. Mas é preciso também reconhecer que o próprio Deus escolheu esse curso para seu Servo”.[5]
Além de ter sido planejada, a morte do Messias seria também voluntária: ... quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado (Is 53:10b). Desde o começo do seu ministério público, Jesus se consagrou a esse destino. Se ele não quisesse, ninguém o aprisionaria, ninguém o crucificaria. Ele mesmo afirmara: Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade (Jo 10:18a – NTLH). Quando os apóstolos resolveram escrever acerca da natureza voluntária da morte de Jesus, usaram, várias vezes, o mesmo verbo (gr. paradidomi). Assim, Paulo pôde escrever, na saudação de sua epístola aos Gálatas: ... graça a vós outros e paz, da parte (...) do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados (Gl 1:3-4a).
Um futuro glorioso estaria reservado para aquele Servo dedicado e obediente: Ele verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos (Is 53:10b). Muitos não o acolheriam, mas todos que o acolhessem receberiam poder para se tornarem filhos de Deus. Então, Isaías afirma que, depois de tanto sofrimento, ele será feliz; por causa da sua dedicação, ele ficará completamente satisfeito (Is 53:11a – NTLH). Deus não somente livraria o Servo Sofredor da Morte, mas também o elevaria a uma posição de honra: Por isso, eu lhe darei um lugar de honra; ele receberá a sua recompensa junto com os grandes e os poderosos (Is 53:12a). Deus exaltaria soberanamente a Jesus, dando-lhe um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, (...) e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fl 2:9a-11). Aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra (Hb 2:9a)

II - E AGORA, O QUE FAZER?

1. Sigamos o exemplo de firmeza inabalável de Jesus.
O Messias permaneceu firme, apesar de ter sido desprezado, depreciado, desonrado, incriminado, caluniado e castigado pelos seus. Foi ele quem suportou tudo, quem se recusou a desistir, decidiu que nenhum obstáculo o levaria a abortar sua santa missão. O escritor da epístola aos Hebreus destaca que o Messias não deixou que a cruz fizesse com que ele desistisse. Pelo contrário, por causa da alegria que lhe foi prometida, ele não se importou com a humilhação de morrer na cruz (Hb 12:2b – NTLH). O mais rejeitado entre os homens teve uma firmeza inabalável! Graças à firmeza inabalável do mais rejeitado entre os homens, a justiça divina foi satisfeita, o hediondo satanás foi julgado, o perverso pecado foi aniquilado e o perdido pecador foi perdoado!
Por várias vezes, a Bíblia nos exorta a sermos firmes: I Co 15:58, 16:13; Gl 5:1; Ef 6:1,14; Fl 1:27, 4:1; Cl 1:27; II Ts 2:15; Hb 4:14; Tg 5:11; I Pe 5:9,12. Por favor, leia todos estes textos. Por que a firmeza é tão exigida? Por três razões: (1) Sem firmeza, não é possível agüentar a provocação, a politicagem, a indiferença, o menosprezo, a perseguição. (2) Sem firmeza, não é possível manter o compromisso, a fidelidade, a esperança, o entusiasmo, a santidade. (3) Sem firmeza, não é possível desafiar a hipocrisia, a intolerância, o conformismo, a negligência, a ostentação. A firmeza é essencial. Assim sendo, não importa o que você esteja enfrentando; fique firme (I Co 15:58); mostre-se confiante e não hesitante, nem vacilante. Lembre-se de que seu principal propósito na vida é agradar ao Senhor, obedecer-lhe, glorificá-lo, obter sua aprovação a todo custo: Estejam alertas, fiquem firmes na fé, sejam corajosos, sejam fortes (I Co 16:13 – NTLH).

2. Sigamos o exemplo de dedicação incansável de Jesus.
Ninguém foi tão “injustiçado” quanto o nosso Salvador. Absolutamente, ninguém. Mas, ainda assim, de maneira incansável e incessante, ele se manteve dedicado ao seu trabalho. Acerca dele, Isaías afirmou: Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito (Is 53:11). Um dos discípulos que mais desfrutou de sua intimidade e de sua proximidade registrou, em seu evangelho, o seguinte: Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar (Jo 5:17). Ele era um homem de dores (Is 53:3b), mas, ao invés de cuidar de suas próprias dores, cuidou das dores alheias (Mt 4:24): andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele (At 10:38). Em três anos de ministério, num país de cerca de 200 quilômetros de comprimento e 60 de largura, Jesus cumpriu cabalmente tudo o que estava escrito sobre ele.
O seu trabalho, que consistia em instruir as pessoas, livrar os cativos, salvar os perdidos, treinar os apóstolos, muitas vezes, iniciava-se pouco antes do nascer do sol (Jo 8:2, Mc 1:35) e se estendia muito após o ocaso (Jo 3:2, Lc 6:12). Ele, sem dúvida, cuidou das ovelhas perdidas da casa de Israel, com destreza e carinho. O mais rejeitado entre os homens utilizou o seu tempo e gastou a sua energia, não para ficar revidando ou lamuriando as ofensas sofridas, mas para matar a sede de muitos, curar a doença de muitos, saciar a fome de muitos, limpar a culpa de muitos. Sigamos os seus passos (I Pe 2:21). Que as nossas oposições não nos paralisem, nem nos enfastiem: Continuem ocupados no trabalho do Senhor, pois vocês sabem que todo o seu esforço nesse trabalho sempre traz proveito (I Co 15:58b – NTLH). Não nos cansemos de fazer o bem. Pois, se não desanimarmos, chegará o tempo certo em que faremos a colheita (Gl 6:9 – NTLH). Ainda veremos o fruto do nosso trabalho! Se Jesus Cristo é Deus e morreu por nós, nenhum sacrifício que façamos por ele nos será grande demais.


3. Sigamos o exemplo de humildade constante de Jesus.
Não há exemplo de humildade tão grande como o de Nosso Senhor. A sua humildade, todavia, não deve ser associada apenas ao modo como nasceu, viveu e morreu (Is 53:2-3,7). O que define a humildade de Jesus não são fatores externos, mas internos. Em outras palavras, Jesus não é humilde por causa da sua aparência, mas por causa da sua atitude; isso porque a palavra humildade está intimamente relacionada a submissão. Como disse Paulo, vivendo a vida comum de um ser humano, ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte—morte de cruz (Fp 2:7b-8 – NTLH). Jesus viveu e morreu em função dos outros. Além de ser necessária, sua morte foi altruísta e benéfica. Ele a empreendeu por nossa causa, não pela sua. Jesus Cristo, sendo sem pecado e não tendo necessidade de morrer, sofreu a nossa morte, a que nossos pecados mereciam.
Tudo se concentra em você! Faça alguma coisa por você, com você ou para você. Como o exemplo de Jesus é diferente! Aquele que veio para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10:45) oferece um convite desafiador e necessário a nossa geração do “eu primeiro”: “Seja um servo, doe-se aos outros”. Você, talvez, nunca tenha parado para considerar que Deus está comprometido com um objetivo principal na vida de todo o seu povo: conformar-nos à imagem de seu Filho (Rm 8:29).
Depois de nos incluir em sua família, pela fé em seu Filho, o Senhor Deus se empenha em colocar em nós a mesma qualidade que tornou Jesus diferente de todos de sua época. Ele está envolvido em produzir em seu povo as mesmas qualidades de serviço e doação humildes e voluntários que caracterizaram seu Filho.[6] Assim sendo, custe o que custar, a humildade contante que tomou conta de Jesus precisa tomar conta de nós: Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus (Fp 2.5). Cristo deu a sua vida por nós. Por isso nós também devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos (I Jo 3:16 – NTLH).

Jesus, o santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus (Hb 7:26), foi desprezado e o mais rejeitado entre os homens. Ele, porém, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia (Hb 12:2). Por favor, preste muita atenção na sentença não fazendo caso da ignomínia, porque, nela, encontramos o segredo da retumbante vitória de Jesus. Esta frase mostra-nos que ele não fez caso da ignomínia. Não fazer caso é o mesmo que não se importar. Ignomínia, por sua vez, é mesmo que vergonha, desonra, desprezo, deboche. Jesus foi vitorioso porque não se importou com “o que diziam sobre” nem “com o que faziam contra” a sua pessoa e o seu ministério. Por causa da alegria que lhe estava prometida, ele suportou toda afronta.
Como dizem as Escrituras Sagradas: Por causa de ti [de Jesus] estamos em perigo de morte o dia inteiro; somos tratados como ovelhas que vão para o matadouro (Rm 8:36 – NTLH). Não foquemos, entretanto, a nossa atenção na humilhação ou na perseguição do tempo presente, pois em todas essas situações temos a vitória completa por meio daquele que nos amou (Rm 8:37 – NTLH). Foquemos a nossa atenção na recompensa do tempo futuro! Não façamos, portanto, caso da ignomínia, pois, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (I Co 2:9). E essa pequena e passageira aflição que sofremos vai nos trazer uma glória enorme e eterna, muito maior do que o sofrimento (II Co 4:17). Deus é por nós! Se Deus está do nosso lado, quem poderá nos vencer? Ninguém! (Rm 8:31 – NTLH). Sendo assim, façamos e vivamos como o nosso Senhor e Mestre: desprezemos o desprezo.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM GRUPO:

01. Baseando-se nas explicações do comentário, explique com suas próprias palavras Isaías 53:1-3.
02. Após ler o comentário, responda: De que modo Isaías 53:4-6 pode ser compreendido?
03. Fundamente-se no comentário e responda: Como podemos entender Isaías 53:7-9?
04. Com base no comentário, esclareça para a classe o sentido de Isaías 53:10-12.
05. Por que a firmeza é tão necessária e importante? O que Jesus tem a nos ensinar a esse respeito?
06. Pense na incansável e incessante dedicação de Jesus. O que podemos aprender com ele? Leia os textos bíblicos do comentário.
07. O que significa ser verdadeiramente humilde? Por que é tão difícil seguir o exemplo de humildade deixado por Jesus?

Notas Bibliográficas:
[1] ELISSEN, Stanley ª Conheça melhor o Antigo Testamento. São Paulo: editora Vida, 1999, p. 225 e 227.
[2 DAVIDSON, F. (editor geral). O Novo Comentário. São Paulo: Vida Nova, 3a ed., 1997, p. 732.
[3] RIDDERBOS. J. Isaías: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2a ed., 1995, p. 429.
[4] STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 1991, p. 53.
[5] RICHARDS, Lawrence C. Comentário bíblico do professor. São Paulo: Editora Vida, 2004, p. 455.
[6] SWINDOLL, Charles. Dia a dia. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 69.

DO TRONO AO PASTO


... serás expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e dar-te-ão a comer ervas como aos bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. (Dn 4:25)

O livro de Daniel é um dos mais fascinantes do Antigo Testamento; é um dos mais citados na área de estudo chamada escatologia (doutrina das últimas coisas); é um livro fascinante, pelos ensinos que contém sobre a soberania de Deus na história humana. Deus não é mais um soberano: ele é o Soberano Senhor, que dirige a história universal para realizar seus propósitos.
[1] As suas ações jamais podem ser barradas e os seus planos não podem ser driblados por quem quer que seja. A história continua porque Deus a comanda.
No texto bíblico em questão vemos que quem banaliza o juízo iminente, despreza o favor imerecido e minimiza o poder soberano do Deus do céu é terrivelmente humilhado. Trata-se, sem dúvida, de um assunto de grande valor espiritual e prático, porque o povo de Deus desse tempo precisa ser lembrado de que há Deus no céu. Muitos crentes vivem como se Deus não existisse; acham que são muito poderosos, plenos em riquezas e auto-suficientes. Alguns se sentem tão influentes que pensam poderem, através das suas artimanhas e articulações, determinar ou comandar o desenrolar dos acontecimentos na igreja e no mundo! Sem rodeios, o texto-base desta lição mostra-nos que se não nos arrependermos dessa arrogância, Deus nos conduzirá à vergonha e à reprovação.

I – DE OLHO NA PALAVRA DE DEUS

O nosso texto-base gira em torno de um sonho: o de Nabucodonosor. (1) A apresentação do sonho (4:10-18). Nabucodonosor estava vivendo na mais absoluta tranquilidade e na mais brilhante prosperidade. Então, sonhou com uma árvore. Este sonho o deixou muito perturbado e angustiado. Ele chamou os especialistas da Babilônia para interpretá-lo; contou-lhes o que havia sonhado, mas os peritos não puderam desvendar o significado. Diante disso, o rei mandou chamar a Daniel: Por fim, se me apresentou Daniel, cujo nome é Beltessazar, segundo o nome do meu deus, e no qual há o espírito dos deuses santos (Dn 4:8). Não se sabe se Daniel ficou por último por esquecimento ou se, deliberadamente, deixou que o rei tomasse a iniciativa de consultá-lo. Daniel ouviu o sonho, que estava dividido em duas partes.
A primeira parte narra “a grandeza da árvore”. A árvore era tão grande que a sua altura chegava até ao céu; e era vista até aos confins da terra (Dn 4:11). Por ser frondosa e frutífera, pessoas e animais encontravam nela proteção e sustento. Nabucodonosor “amava as árvores do Líbano. Registros existentes falam de suas viagens para vê-las e trazer sua madeira para a Babilônia”.
[2] Mas o sonho tinha uma segunda parte, que mostrava “a derrubada da árvore”: surgia alguém que mandava cortar á arvore e derrubá-la. Os seus frutos deveriam ser espalhados e os que usufruíam dela deveriam ser afugentados. Apenas o tronco deveria ser isolado, sozinho, amarrado com um cinto de ferro e de bronze. Por certo tempo, a sua mente deveria ser mudada, de mente humana para mente não-humana. O rei tinha razão para ficar atemorizado, pois o sonho era mesmo muito monstruoso.
(2) A interpretação do sonho (4:19-27). A reação de Daniel diante do sonho foi de perplexidade e pavor. Tudo aquilo o deixou atônito por algum tempo, e os seus pensamentos o turbavam (Dn 4:19). O que seria aquela árvore? O que significaria ser cortada? Após ser encorajado pelo monarca, Daniel passou a desvendar-lhe o significado do sonho. A árvore era o rei (Dn 4:19-22): A árvore que viste (...) és tu, ó rei, que cresceste e vieste a ser forte; a tua grandeza cresceu e chega até ao céu, e o teu domínio, até à extremidade da terra. O império construído por Nabucodonosor era altamente poderoso. Não havia exagero na interpretação do profeta. Ele “estava no auge do seu poder, estabelecido e orgulhoso da suas realizações como cabeça de um império mundial. (...) Suas ambições havia sido alcançadas”.
[3]
A Babilônia era a cidade mais próspera e mais rica do mundo. Os sinais desta prosperidade estavam por toda parte: noventa e seis quilômetros de muros com vinte e cinco metros de largura, para duas carruagens paralelas; vinte e cinco portões de cobre, uma imagem de Marduque, no grande templo, com vinte e dois mil quilos e quinhentos gramas de ouro. A cidade estava cheia de prédios, palácios e templos. Lá, estavam os jardins suspensos, uma das sete maravilhas do mundo antigo, que o rei mandara construir para sua esposa, uma princesa da Média, que sentia falta das montanhas de sua terra natal. Nabucodonosor era, sem dúvida, um conquistador inveterado. Em tudo prosperava.
Depois do auge, veio a decadência. A árvore cortada significava o juízo de Deus sobre o rei (Dn 4:23-26), que viveria, por algum tempo, como um animal, isolado e distante do convívio das pessoas; perderia o poder para que aprendesse a lição: ... até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer (Dn 4:25b). Este era o objetivo do castigo: ensinar, e não destruir. Deus não apregoa aqui um castigo destruidor, porque o seu castigo não é para destruição, mas para correção. A árvore cortada ficaria com as raízes, simbolizando, assim, a volta do rei ao trono (Dn 4:26). Isso nos ensina que Deus está no controle de tal forma que pode fazer cair e tornar a levantar quem ele quiser. O momento deveria ser aproveitado para mudança de vida. Daniel não perdeu a oportunidade: exortou o rei ao arrependimento (Dn 4:27). (3) O cumprimento do sonho (4:28-33). Nabucodonosor não deu ouvidos às palavras de Daniel que lhe aconselhavam ao arrependimento. O tempo passou, mas ele mudou de atitude; continuou elogiando-se e exaltando-se: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade? (Dn 12:30) Olhava para toda aquela construção e se sentia realizado e orgulhoso de ter edificado aquelas magníficas construções “sozinho”. A tudo, ele se referia como “meu”, “minha” e “eu”. Ele se achava o centro do universo. Foi nesse momento de inchaço que a voz do céu pronunciou o veredito: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Já passou de ti o reino (Dn 4:31). O que Daniel havia dito, quando interpretara o sonho, um ano atrás, se cumpria: Naquele mesmo instante, cumpriu-se a sentença contra Nabucodonosor (Dn 4:33a – NTLH).
O que Deus prometera aconteceu: “... por ignorar toda advertência, Nabucodonosor trouxe o desastre sobre si mesmo. Sua jactânica foi interrompida por uma voz vinda do céu, e que é entendida como sendo de Deus”.
[4] Quando uma pessoa não escuta a voz da graça, ouve a trombeta do juízo. Deus abrira para Nabucodonosor a porta da esperança e do arrependimento. Ele se negara a entrar. Deus, então, o empurrou para o corredor do juízo, pois sua paciência tem limite. O cálice da ira de Deus se encheu. O Senhor, então, o humilhou: Ele foi expulso do meio dos seres humanos e começou a comer capim como os bois. Dormia ao ar livre e ficava molhado pelo sereno (Dn 4:33b). A narrativa continua: O seu cabelo ficou comprido, parecido com penas de águia, e as suas unhas cresceram tanto, que pareciam garras de um gavião (Dn 4:33c).
O rei ficou louco. Deus o fez descer ao fundo do poço; tirou o seu entendimento; deu-lhe um coração selvagem. Ele agora vivia como animal no campo, comendo capim, pastando com os bois. O poderoso Nabucodonosor vivia como bicho. Este fenômeno é caracterizado, genericamente, de zoantropia. A pessoa sofre um tipo de delírio e imagina que se transformou num animal. Os termos relacionados a isso são “licantropia” (imaginar-se um lobo) ou “boantropia” (imaginar-se um boi). O fato é que Deus tirou do trono o homem mais poderoso do mundo e o levou para o pasto. Literalmente, o rei foi pastar.
A humilhação de Nabucodonosor tinha duração e propósito definidos. A duração seria de sete tempos (Dn 4:23,25); nem mais, nem menos. E o propósito? Fazer o monarca, que pensava possuir poderes absolutos, reconhecer que Deus é o Senhor de toda a terra. Daniel lhe disse que a humilhação continuaria até que ele aprendesse que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer (Dn 4:32b). No fim do tempo predito, o rei voltou à sua razão e deu louvor e glória ao verdadeiro Deus, admitindo a sua grandeza e a sua soberania sobre a história humana (Dn 4:34-35). Ele disse: Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras são verdadeiras, e os seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba. (Dn 4:37)


Ainda faltava cumprir-se a outra parte do sonho: a que previa a volta do rei ao trono. Daniel lhe havia dito: ... o teu reino tornará a ser teu, depois que tiveres conhecido que o céu domina (Dn 4:26b). Esta parte foi, também, plenamente realizada. O próprio Nabucodonosor testemunhou, dizendo: Tão logo me tornou a vir o entendimento, também, para a dignidade do meu reino, tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor (Dn 4:36a). Ele ainda prosseguiu: ... buscaram-me os meus conselheiros e os meus grandes; fui restabelecido no meu reino, e a mim se me ajuntou extraordinária grandeza (Dn 4:36b). O Deus que fere é o Deus que cura! O Deus que humilha é o que exalta! O que Deus prometeu, cumpriu! Bendito seja o nome do Senhor!

II - E AGORA, O QUE FAZER?

1. Proclamemos ousadamente o juízo de Deus
Ao ouvir a descrição do sonho, Daniel ficou perplexo, pois ele mesmo desejava o bem para o rei, mas percebeu que o sonho continha o anúncio de julgamento contra o rei da parte de Deus. Fora este rei que honrara e exaltara a Daniel, dando-lhe muitos e grandes presentes, e o pôs por governador de toda a província da Babilônia, como também o fez chefe supremo de todos os sábios da Babilônia (Dn 2:48). Daniel exercia a sua alta função na bela e rica capital do império (Dn 2:49b), permanecendo, portanto, intimamente relacionando com o rei. Além do mais, fora este rei que, de igual modo, exaltara os amigos de Daniel, colocando-os sobre os negócios da província da Babilônia (Dn 2:49a). Daniel era um homem visivelmente respeitado e importante.
E agora, o que faria? Deveria proclamar a duríssima mensagem de julgamento aquele poderoso e influente monarca? Se ele dissesse a verdade, regalias, posições e títulos poderiam ser perdidos? Sim! Daniel, porém, não se deixou afetar pela pompa da corte. Para Daniel, a fidelidade era inegociável. Ele, então, disse o que Deus queria que fosse dito ao rei! Anunciou, de modo claro e franco, o juízo do Altíssimo: A árvore que viste, (...) és tu, ó rei! (Dn 4:20a,22a) Às vezes, suavizamos ou adulteramos a mensagem de Deus, no mundo e na igreja, porque tememos prejuízos relacionais e materiais. Para não termos problemas e desgastes, negociamos o inegociável: a palavra de Deus. Queremos continuar na corte, lugar de muitos privilégios e várias vantagens. Pense no que Jesus disse: O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira? Pois não há nada que poderá pagar para ter de volta essa vida (Mt 16:26, NTLH). Há quem faça de tudo para não ter de sair da corte.

2. Agradeçamos sinceramente o favor de Deus
Apesar de ser muito difícil conviver com o fracasso, parece ser mais difícil ainda conviver com o sucesso. Veja-se, por exemplo, a história de Nabucodonosor. O Deus do céu deu-lhe o reino, o poder, a força e a glória (Dn 2:37). Ele lhe deu o domínio em todo o mundo sobre os seres humanos, os animais e as aves (Dn 2:38a, NTLH). Sem o favor de Deus, aquele monarca nada teria dominado, edificado e conseguido (Dn 5:18-19). Ele, porém, não soube lidar com a vitória! Tempos depois, andando pelo palácio, exclamava assoberbado: Como é grande a cidade de Babilônia! Com o meu grande poder, eu a construí para ser a capital do meu reino, a fim de mostrar a todos a minha grandeza e a minha glória. (Dn 4:30 – NTLH – grifo nosso). Ao invés de se mostrar grato ao favor de Deus, como fizera Daniel (Dn 5:22-30), o seu coração se elevou, e o seu espírito se tornou soberbo e arrogante (Dn 5:20a). Só depois de ser seriamente humilhado (Dn 5:20-21) foi que agradeceu ao Deus Altíssimo e deu louvor e glória àquele que vive para sempre (Dn 4:34).
Como observa o teólogo e escritor, Elben M. Lenz César, em seu artigo adoradores da vitória
[5], por mais estranho que pareça, a derrota é, às vezes, mais saudável que a vitória. Em muitos casos, a derrota remove a pessoa do pedestal ao qual ela e seus admiradores a elevaram, e a coloca em seu devido lugar. Já a vitória pode prestar serviço contrário: tirar alguém de entre as outras pessoas e colocá-lo acima de todos. Não há nada de errado no sucesso.
A vida bem-sucedida faz parte dos planos de Deus. Mas, se o favor de Deus, antes, durante e depois do sucesso, não for sinceramente reconhecido e humildemente declarado, com certeza, o sucesso fomentará a soberba e esta, por sua vez, a ruína, como a Bíblia o ensina francamente (Pv 16.18; Dn 5:22-30). Em vez de adorarmos a vitória de Deus, adoremos o Deus da vitória, dizendo: Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra (I Cr 29:11a).

3. Confessemos humildemente o poder de Deus.
O pasto machuca e humilha, mas é uma bênção; produz tanto correção quanto rendição. Em muitos casos, é o único método que leva a pessoa a se corrigir. Daí a confissão do salmista: Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra (Sl 119:67). Ele mesmo reconhece: Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos (Sl 119:71). O pasto, portanto, corrige a rota, a visão, o comportamento, o relacionamento e a transgressão; produz também rendição. É o caso de Nabucodonosor, que recebeu revelações estrondosas do reino de Deus (Dn 2:31-45) e presenciou operações milagrosas do poder de Deus (Dn 3:19-27), mas nunca se rendeu ao Senhor. Ele o louvou apenas da boca para fora (Dn 2:46-47, 3:28-29). Após passar pelo pasto, o rei se rendeu a Deus! O pasto obrigou e forçou o arrogante a reconhecer a autoridade do Senhor e a submeter-se a ela.
O pasto pode ser a perda da alegria, a perda de bens materiais, a perda da saúde, a perda de um ente querido, a perda do emprego. Pode ser, ainda, o vexame, a perseguição, o tédio, a dor. O pasto, que tem não somente valor terapêutico (porque cura doenças), mas também valor pedagógico (porque ensina lições), tem duração definida. O que isto quer dizer? Que o tempo que passamos no pasto é cronometrado! Dura o tempo necessário, nem mais nem menos; dura até que haja mudança ou rendição, ou as duas coisas. Não ficamos no pasto o tempo todo. Ficamos lá até acordarmos, até reagirmos, até mudarmos, até aprendermos, até enxergarmos, até confessarmos humildemente que todos os povos da terra são como nada diante dele [de Deus]. Ele age como lhe agrada com o exército dos céus e com os habitantes da terra. Ninguém é capaz de resistir à sua mão ou dizer-lhe ‘o que fizeste?’ (Dn 4:35 – NVI). Ficamos no pasto até nossos joelhos se dobrarem e a nossa língua admitir que o céu domina (Dn 4:26b). Depois disso, somos postos no trono de novo.

Aquele que arruinou Jerusalém, que destruiu o templo, que carregou os vasos sagrados, que esmagou a cidade, que levou cativo o povo, que adorou deuses falsos, que era cheio de orgulho, que mandara matar seus próprios feiticeiros, que jogara na fogueira os filhos de Deus, que exigira adoração a sua pessoa, que fora o homem mais poderoso da terra, que exaltava e humilhava a quem queria, que era temido por homens de todas as línguas, que matava a quem queria e a quem queria deixava com vida, que tocava trombeta para si mesmo (Dn 5:19), que colocava holofote em si próprio, que aplaudia a sua própria glória, foi terrivelmente humilhado pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver (I Tm 6:16a).
O que ocorreu com Nabudonosor ficou registrado para nos instruir, para nos alertar e para nos advertir sobre o quanto é perigoso e trágico ignorar o juízo, o favor e o poder de Deus. Não tente ignorar a história; ela pode salvar ou acabar com a sua vida. Belsazar, filho de Nabucodonosor, sabia de tudo que aprendemos nesta lição, mas, mesmo assim, não foi humilde. Numa certa noite, ele zombou de Deus (Dn 5:1-4), o Rei do céu, aquele que tem o poder de matar ou de deixar viver (Dn 5:23). Por causa disso, veio o fim não somente para o monarca, mas também para o império: Naquela mesma noite, Belsazar, o rei da Babilônia, foi morto, e Dario, o rei do país da Média, que tinha sessenta e dois anos de idade, começou a reinar no seu lugar (Dn 5:30-31).
Fique atento à história, para que você saiba agir de maneira correta e humilde perante aquele que a um abate e a outro exalta (Sl 75:7). Sempre lembre que tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito (Rm 15:4). A ele honra e poder eterno. Amém (I Tm 6:16b).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM GRUPO:
01. Leia Dn 4:10-18, o comentário e descreva, resumidamente, o sonho de Nabucodonosor.
02. Leia Dn 4:19-21, o comentário e responda: Qual o significado do Sonho de Nabucodonosor? 03.Leia Dn 4:27-30 e responda: Qual foi a reação de Nabucodonosor, quando soube do trágico significado do sonho? Ele se mostrou arrependido?
04. Leia Dn 4:31-34, o comentário e explique como se cumpriu o sonho na vida de Nabucodonosor.
05. Leia Dn 2:48-49 e responda: O que temos a aprender com Daniel sobre a proclamação do juízo de Deus? Recorra também a comentário.
06. Leia Dn 4:30, o comentário e responda: A quem Nabucodonosor atribuía o seu sucesso? Por que, muitas vezes, é tão difícil lidar com o sucesso?
07. Compare Dn 4:25 com Dn 4:34 e responda: Por que Deus tirou Nabucodonosor do trono e o levou para o pasto? O que significa dizer que o pasto é terapêutico e pedagógico? Fundamente-se no comentário.

Notas Bibliograficas:
[1] SOARES, Josué Ebenézer de Sousa (editor). Pontos Salientes. Rio de Janeiro: Juerp, 1993, p. 117.
[2] PFEIFFER, Charles. F. Comentário Bíblico Moody. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 2001, vol. 03, Moody, 227.
[3]BALDWIN, G. Joyce. Daniel: introdução e comentário. São Paulo: edições Vida Nova e Mundo Cristão. 1983, p. 119.
[4] BALDWIN G. Joyce. Daniel: introdução e comentário. São Paulo: edições Vida Nova e Mundo Cristão. 1983, p. 122.
[5] Revista Ultimato On-line, edição 301, de julho a agosto de 2006.

CORRENDO COM OS QUE VÃO A CAVALO



Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo?(Jr 12:5a).

Jeremias. Que ele foi profeta, todos nós sabemos. Que ele era um corredor, ninguém sabe. O próprio Jeremias também pensava que era somente profeta. A sua primeira corrida aconteceu em Anatote, a cidade do seu nascimento e do seu chamamento. Mesmo sem saber que estava numa corrida, o profeta-corredor começou bem, mas não continuou bem. Poucos metros à frente, ele estava cansado, fatigado, debilitado, esgotado. Quase sem fôlego, procurou aquele que o tinha chamado para o ministério profético. Sem rodeios, desabafou: Não agüento continuar! Estou cansado e fatigado! O que ele ouviu de Deus foi chocante.
Olhando para Jeremias prostrado, Deus lhe perguntou: Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? (Jr 12:5). Jeremias, obviamente, tomou dois sustos. O primeiro susto foi porque ele não sabia que era um corredor, nem que estava numa corrida; o segundo, foi porque não sabia que tinha pela frente uma segunda corrida, muito mais complicada e muito mais desgastante.
A história não termina neste décimo segundo capítulo. Há, pela frente, mais quarenta capítulos. O que estes capítulos descrevem? A competição. Lá estava Jeremias, a pé, competindo com os que iam a cavalo. Quem venceu a corrida? Se você quiser saber o final da história desta competição, terá de continuar o estudo. Então, vamos.

I – DE OLHO NA PALAVRA DE DEUS

(1) A situação do profeta (Jr 11:18-20): Por divina revelação, o profeta Jeremias descobriu que as pessoas de Ananote, a sua cidade natal, estavam tramando assassiná-lo: O SENHOR mo fez saber, e eu o soube; então, me fizeste ver as suas maquinações (Jr 11:18). Ananote era uma pequena cidade que ficava no território de Benjamim, a uns cinco quilômetros a nordeste Jerusalém. Nos tempos de Josué, muitas cidades foram sorteadas e separadas para a tribo de Levi, o terceiro filho de Jacó e o progenitor de uma das doze tribos de Israel (Js 21:13-19). Ananote foi uma delas, e, por assim dizer, era uma cidade de consagrados e de sacerdotes (Js 21:13-19). Foi para lá que Salomão expulsou o sumo sacerdote Abiatar, que, no final do reinado de Davi, participou de uma jogada política para fazer Adonias rei (I Rs 1:5-10), “um ato que quase custou-lhe a vida e o fez perder a fama de leal servidor do reino”
[1] (I Sm 22:6-13, 23:6-12; II Sm 15:24-36; I Rs 1-2).
É muito curioso que a cidade dos sacerdotes fosse também a cidade das maquinações assassinas! É triste observar que a maior oposição ao profeta de Deus vinha dos que se diziam religiosos. Não fosse o alerta divino, o profeta teria sido, de fato, morto, pois ele mesmo admite estar alheio às intenções assassinas dos anatotistas: Eu era como um cordeiro manso que é levado para ser morto. Não sabia que era contra mim que eles estavam planejando maldades (Jr 11:19a – NTLH). Por si próprio, jamais Jeremias poderia imaginar seus conterrâneos dizendo: Destruamos a árvore com seu fruto; a ele cortemo-lo da terra dos viventes, e não haja mais memória do seu nome (Jr 11:19b – NTLH). Por que queriam matar o profeta? É provável que “os parentes de Jeremias, em Anatote (talvez fossem também sacerdotes) procurassem matar os profetas por causa de suas freqüentes acusações contra a falsa confiança no ritual”.
[2]
(2) O defensor do profeta (Jr 11:21-23): Não há dúvida de que “a deslealdade dos seus vizinhos, e especialmente dos próprios parentes, veio como um doloroso golpe para o desprevenido profeta”.
[3] Ele deve ter se sentido bastante magoado. O que fez com a mágoa? Não a ignorou, nem a ocultou. Sem rodeios, expôs-na, de modo franco, a Deus, através da oração: Então eu orei assim: —Ó SENHOR Todo-Poderoso, tu és um juiz justo. Tu examinas os nossos pensamentos e os nossos sentimentos (Jr 11:20a – NTLH). Ele continuou: Deixa que eu veja a tua vingança contra eles, pois coloquei a minha causa nas tuas mãos (11:20b – NTLH). O que Jeremias está dizendo? Isto: Senhor, cuide dos que tramam contra minha vida. Observe que o profeta não buscou a vingança, nem tentou a revanche; apenas deixou que Deus fizesse o acerto de contas.
Ao ver esta atitude do profeta, assim lhe disse o Senhor: Eis que eu os punirei; os jovens morrerão à espada, os seus filhos e as suas filhas morrerão de fome (Jr 11:22). E ainda afirmou: E não haverá deles resto nenhum, porque farei vir o mal sobre os homens de Anatote, no ano da sua punição (Jr 11:23). Com isso, Deus estava dizendo a Jeremias: Deixe que eu cuido dos que ameaçam você! Deus conhece as pessoas que maltratam, que hostilizam, que perseguem, que machucam aqueles que trabalham para ele. Ele não somente os conhece intimamente, mas também os castiga pessoalmente. Por essa razão, esclarece: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor (Rm 12:19b).
(3) O lamento do profeta (Jr 12:1-4): Após ouvir Deus prometer que castigaria seus inimigos, Jeremias perguntou: Por que prospera o caminho dos perversos, e vivem em paz todos os que procedem perfidamente? (Jr 12:1b). Ele não conseguia entender por que um Deus justo permitia que os perversos homens de Anatote, que não se importavam com sua Palavra nem com a sua vontade, desfrutassem de tanta estabilidade e de grande prosperidade. Jeremias percebia que aquele sucesso era produto não da casualidade, mas da providência: Plantaste-os, e eles deitaram raízes; crescem, dão fruto; têm-te nos lábios, mas longe do coração (Jr 12:2). Ele pediu que Deus os punisse, o mais rápido possível: Arranca-os como as ovelhas para o matadouro e destina-os para o dia da matança (Jr 12:3b). Também queria saber por quanto tempo aquela situação de maldade continuaria impunemente tolerada: Até quando estará de luto a terra, e se secará a erva de todo o campo? (Jr 12:4b).
Além de Jeremias, outros levantaram esta angustiante indagação. Esta pergunta esteve nos lábios de Elias: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu (I Rs 18:21); nos lábios do salmista: Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo? (Sl 13:2); nos lábios de Habacuque: Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? (Hc 1:2); nos lábios dos mártires: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (Ap 6:10); nos lábios de Jesus: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? (Mc 9:19).
Há sete passagens, no livro de Jeremias, que são chamadas “confessionais” (Jr 8:18-9:3, 11:18-23, 12:1-6, 15:10-12, 15-21, 17:14-18, 18:18-23, 20:7-14). Nelas, vemos o amargurado e desapontado profeta falando na primeira pessoa, abrindo o seu coração a Deus. Ele revela, com franqueza, o que está acontecendo em seu íntimo; exprime, dramaticamente, o conflito interior de todos os que desempenham uma missão combatida por outros.
É uma aflição desesperadora querer o bem e ser, por isto, combatido por aqueles que são alvos desse bem. Esta é uma situação muito freqüente, hoje em dia. É o sofrimento não só de Jeremias, mas de todos que, como ele, devem anunciar a palavra de Deus, que não lisonjeia as paixões, não justifica as culpas. Jeremias, porém, não fica inerte, mas dialoga com Deus, desabafa, questiona, lamenta. Ele, sem dúvida, era um profeta de oração.
[4]
(4) A correção do profeta (Jr 12:5-6): A resposta do Senhor à angústia de Jeremias foi bastante chocante: Ao invés de simpatizar com sua situação e confortá-lo, o Senhor censurou-o e desafiou-o, dizendo: Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do Jordão? (Jr 12:5) Deus, veementemente, repreendeu Jeremias por ter ficado tão desgastado e tão preocupado com pouca provocação. Deus lhe revelou também que a situação já era pior do que ele imaginava: Porque até os teus irmãos e a casa de teu pai, eles próprios procedem perfidamente contigo; eles mesmos te perseguem com fortes gritos. Não te fies deles ainda que te digam coisas boas (Jr 12:6). Enfim, o Senhor lhe mostrou, de modo muito incisivo e enérgico, “que o que ele já sofreu não é nada comparado com o que ainda vem”.
[5]
Jeremias pensou em desistir da vocação, do chamado, do ministério, da corrida, mas não desistiu. Ele aceitou o desafio de competir com os andavam a cavalo; Deus lhe deu, então, um longo tempo para anunciar a mensagem. Ele começou a profetizar no décimo terceiro ano de Josias (639-609 a.C.), quatro anos antes das reformas espirituais deste monarca atingirem seu ponto máximo, em 622 a.C., e continuou a profetizar nos reinados de Jeoacaz (que reinou apenas três meses do ano 609 a.C.), Jeoiaquim (609-598 a.C.), e Zedequias (597-586 a.C.), o último rei de Judá. Durante o seu ministério público de quarenta anos, em meio às mais confusas e caóticas décadas de toda história do povo de Judá, Jeremias foi invencível.
Por diversas vezes, o seu íntimo voltou a ser tomado por intensas agonias e amargas aflições; porém, nunca se desviou do curso traçado por Deus. Ele foi cruelmente escarnecido e severamente perseguido (Jr 37:13-21, 38:4-13), mas jamais mudou a sua posição. Havia sobre ele uma tremenda e incrível pressão para que mudasse, fizesse concessões, desistisse e se escondesse. Jeremias, porém, jamais aceitou fazer qualquer dessas coisas. Pouco se sabe sobre o final da vida de Jeremias: seu ministério profético encerrou-se no Egito (Jr 44:1-30), onde vivia como refém daqueles que não quiseram obedecer à palavra de Deus (Jr 42). Na opinião do mundo, a vida de Jeremias foi um completo fracasso! Porém, na opinião de Deus, ele se tornou exemplo de um homem que cumpriu o seu chamado, mesmo diante das mais cruéis adversidades! Ele venceu, graça a Deus, os que iam a cavalo! Amém.

II - E AGORA, O QUE FAZER?

1. Enquanto estivermos correndo com os que vão a cavalo, tenhamos cuidado com as circunstâncias.
A maioria de nós já aprendeu que as circunstâncias nem sempre acabam como queríamos. Sonhos morrem, relacionamentos acabam e as melhores esperanças que temos para nós e outros não acontecem de acordo com o nosso roteiro. A vida pode trazer circunstâncias diversas e adversas. Há pessoas que ainda não aprenderam a viver em toda e qualquer circunstância. Se a figueira não floresce, se os campos não produzem mantimento, se as ovelhas são arrebatadas do aprisco, se nos currais não há gado, logo jogam a toalha. É bom que se diga, porém, que o Cristianismo não é para pessoas sem firmeza, sem convicção, sem ousadia. Somente pessoas com perseverante coragem e determinação resoluta terão a força necessária para prosseguir neste caminho.
Não é mimando seus soldados que Cristo os torna bons, mas é deixando que passem por grandes dificuldades. A preparação militar, ou até mesmo o treino esportivo, é duro. Nenhum general orienta suas tropas dando-lhes o máximo de conforto e descanso; nenhum técnico fortalece seus atletas sem dor e suor. Talvez, nós já tenhamos imaginado que a vida seja bem difícil, mas estas dificuldades podem ser designadas meramente como entrada às verdadeiras provações do futuro. Se já nos rendemos diante dos desafios menores, como é que superaremos os desafios maiores? A palavra de Deus afirma: Se te mostras fraco no dia da angústia, a tua força é pequena (Pv 24:10). Se sua força é pequena, aumente-a! Exercite-se! (I Tm 4:7-8) Torne-se mais forte, porque, em breve, você terá de competir com os que vão a cavalo! Fortifique-se na graça (II Tm 2:1) e na força do Senhor (Ef 6:10), para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis (Ef 6:13).

2. Enquanto estivermos correndo com os que vão a cavalo, tenhamos cuidado com os sentimentos.
Os profetas de Deus, quando entregam uma mensagem verdadeira e nada popular, podem sofrer emocionalmente, ao ver muitas pessoas enganadas correndo atrás de falsos profetas, portadores de notícias agradáveis (Jr 8:10-11).
[6] Esta pode ser a sua situação. Você está angustiado porque não agüenta mais ver tantos profetas colocando panos quentes, em vez de fazerem o que é correto? Você está angustiado porque não agüenta mais ver tantos profetas recusando-se a falar de assuntos dolorosos ou tocar em certas feridas? Você está angustiado porque não consegue mais ver tantos profetas curando superficialmente a ferida do povo de Deus, dizendo: “Paz”, quando não há paz? Se a sua resposta para estas perguntas é “sim”, cuidado! A angústia é uma perigosa tentação. Não a guarde, não a omita, não a negue. Por fazer isso, muitos profetas, que outrora foram homens da maior firmeza, desistiram da vocação e abandonaram o chamado. Portanto, converse com Deus sobre a sua angústia.
Devemos orar preventivamente (Mc 14:38) e incessantemente (I Ts 5:17). Em certas situações, todavia, é natural que a freqüência e o volume das orações aumentem consideravelmente. O próprio Jesus, estando em agonia orava mais intensamente (Lc 22:44). Uma das situações que exigem oração dobrada é a de angústia, como a de Jeremias. Antes de ser um convite à aflição, a angústia é um convite à oração.
[7] Se você, prezado estudante, está interiormente angustiado, emocionalmente cansado, vire o rosto, e não a costa, ainda hoje, para aquele que faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor (Is 40:29), e clame: Ó SENHOR, cura-me, e ficarei curado; salva-me, e serei salvo, pois eu canto louvores a ti (Jr 17:14). Esteja sempre certo de que os que confiam no SENHOR recebem sempre novas forças. Voam nas alturas como águias, correm e não perdem as forças, andam e não se cansam (Is 40:31 – NTLH).

3. Enquanto estivermos correndo com os que vão a cavalo, tenhamos cuidado com a mensagem.
No vigésimo terceiro capítulo, Jeremias declara: Durante vinte e três anos, (...) tem vindo a mim a palavra do SENHOR, e, começando de madrugada, eu vo-la tenho anunciado; mas vós não escutastes (Jr 25:3a – grifo nosso). Por favor, preste atenção na expressão destacada, encontrada com freqüência em outros capítulos (Jr 7:13, 25-26, 11:7-8, 25:3-5; 29:29, 32:33, 35:14-15, 44:4). Em uma nação de clima quente, como Judá, era muito importante percorrer o máximo de distância, antes que o sol se pusesse a pino, fatigando, sobremaneira, o viajante. Ela enfatiza, grandemente, a diligência, a presteza, a devoção do profeta Jeremias ao ministério da pregação da Palavra às autoridades e às populações. Ele não era um profeta preguiçoso, negligente, descuidado, desatento, desleixado. O que Jeremias conseguiu com aquela perseverante dedicação? Perseguição! Ele foi zombado, torturado, ofendido, magoado. Ele foi tudo, menos ouvido e atendido: ... mas vós não escutastes (Jr 25:3b). Ninguém se vestiu de saco, nem se sentou na cinza, mas Jeremias continuou pregando a mesma mensagem (Jr 26:2).
Aqui, temos duas fortes lições. A primeira: A pregação da palavra de Deus raramente conduz à popularidade! O tom de autoridade é desgostoso e desagradável aos ouvidos das pessoas rebeldes (Jr 3:22), insensíveis (Jr 5:3), que corrompem a verdade e manipulam a palavra do Senhor. Eis a segunda lição: as pessoas que ficam ressentidas com a mensagem perturbadora geralmente recorrem a medidas, ou para destruir a mensagem (leia Jr 36) ou para calar o mensageiro (leia Jr 37).
Se somos rejeitados, expulsos, detestados, injuriados e caluniados, por causa da pregação da Palavra, não devemos nos desanimar, mas, sim, nos regozijar: Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mt 5:12). Se estivermos pregando a verdade, temos de ser ousados e destemidos e nos recusar a diluir a palavra de Deus. Se estivermos ouvindo a verdade, temos de examinar-nos e converter-nos de nossos maus caminhos.

Jeremias não foi o único que competiu e derrotou os que iam a cavalo. O décimo primeiro capítulo de Hebreus (v. 4-32) relaciona homens e mulheres que, a pé, também competiram e venceram os que iam a cavalo. Eles, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões (Hb 11:33). Sem cavalo, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros (Hb 11:34), que iam sempre a cavalo. A vitória mais impressionante e mais estrondosa sobre os que iam a cavalo foi alcançada por Jesus. Sem cavalo, ele despojou os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz (Cl 2:15). Quanta dor, quantas aflições ele passou! Porém, que vitória espetacular! Ele suportou tudo, sem nunca deixar de correr.
Não é fácil competir com aqueles que vão a cavalo. Quantas vezes somos tentados a desistir dessa corrida? Às vezes, parece que a nossa linha de chegada nunca será alcançada. A corrida é dura, mas a chegada é certa! Em Cristo, somos mais que vencedores. Ele venceu para nos ajudar a vencer. Sendo assim, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta,olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus (Hb 11:1-2), pois ele mesmo nos garante: Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma (Hb 12:3). Prezado leitor, o Deus de Jeremias está com você e também lhe diz: Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão; porque eu sou contigo, diz o SENHOR, para te livrar (Jr 1:19).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM GRUPO:

01. Após ler Jr 11:18-20, responda: Qual era a situação do profeta Jeremias em Anatote? Recorra também ao comentário.
02. Baseie-se em Jr 11:21-23 e responda: Ao saber das perversas maquinações dos moradores de Anatote, qual foi reação do profeta Jeremias?
03. Leia Jr 12:1-4 e comente o lamento de Jeremias registrado nesta passagem. Explique também por que ele é chamado de profeta de oração.
04. Veja Jr 12:5-6 e responda: Como Deus reagiu ao desabafo do profeta Jeremias? O que você pensa dessa reação?
05. Por que para competir com os que vão a cavalo é preciso ter cuidado com as circunstâncias?
06. Competir com os que vão a cavalo é emocionalmente angustiante. O que fazer com essas angústias? Leia Jr 14:7-9,11-14 e o comentário.
Notas Bibliograficas:
[1] GARDNER, Paul (Editor). Quem é quem na Bíblia: A história de todos os personagens da Bíblia. São Paulo: Vida, 2002, p. 4.
[2]PFEIFFER. Charles. F. Comentário Bíblico Moody. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 2001, vol. 03, Moody, p. 81.
[3] MEARS. Henrieta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida, 1995, p. 207.
[4] PETERSON, Eugene. Corra com os cavalos: para quem busca uma vida de excelência. Rio de Janeiro/Viçosa: Textus/Editora Ultimato, 2003, p. 118.
[5] HARRISON. R. K. Jeremias e Lamentações: Comentário e Introdução. São Paulo: Mundo Cristão e Vida Nova, 1989, p. 77.
[6] BRANDT, Robert L. & BICKET, Zenas J. O Espírito Santo nos Ajuda a orar: uma teologia da oração. São Paulo: Editora CPAD, 1996, p. 185.
[7] CÉSAR. Elben M. Lenz. Pastorais para o terceiro milênio. Viçosa (MG): 2000, p. 37.